26/07/2014

Envelheci

Eu envelheci, o tempo passou e hoje sou alguém cheia de histórias pra contar, marcas do que vivi.
As vezes lamento muito ser quem sou, outras agradeço.  Quem eu poderia ser se eu não sentisse a vida como eu sinto? Quem eu seria se não tivesse feito tudo o que fiz?
Sinto-me estranha, disforme.
Acho que envelhecerei sozinha, cansei. Já não quero os agitos. Ja não quero os barulhos. Cansei.
Estou fazendo as pazes comigo, com o tempo e com os quereres em mim.
Sinto um cansaço.

21/07/2014

Mas dizem que é pedir demais.


O que é ser forte?


Me assustei, me reafirmei, sei o que não quero, sei cuidar um pouco mais de mim, sei de algumas portas que não posso atravessar, sei o resultado, sei dizer não, sei conviver comigo e agora gosto da minha paz, a solidão parou de doer, gosto do vinho comigo mesma, gosto dos filmes sem ninguém pra falar e interromper, me tornei um tanto intolerante, tenho o meu mundo, meu, meu, meu, egoísta? Apenas fruto de uma cadeia de acontecimentos.
O que eu tenho a dizer é que verdadeiramente nada dura para sempre e que você pode sim conviver com suas escolhas sejam elas quais forem a de ir ou a de ficar.
Você é forte sim e descobre isso quando não te resta nenhuma outra opção.

03/07/2014

Mais força e mais uma dose por favor.

Tem sentimentos que eu gostaria de nunca mais experimentá-los, queria me livrar dessa falta de ar, desse coração ¨taquicardiando¨, e todo o resto que acompanha esse momento de agonia existencial. Cansada, cansada de enfrentar isso, de sentir isso, sem poder fugir, tendo que fingir.
Um dia de casa vez, devagar e sempre, lembre-se, tudo passa, e mais uma vez aquele esplendor de existir volta a arder em você.

Ela escreveu pra mim.


Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. (...) Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. (...) Pretendia apenas lhe contar o meu novo carácter, ou falta de carácter. (...) Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu... em que pese a dura comparação... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. (...) Uma amiga, um dia desses, encheu-se de coragem, como ela disse, e me perguntou: você era muito diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou essa calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinquenta anos. (...) o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Ouça: respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver. 

Clarice Lispector, in 'Carta a Tânia [irmã de Clarice] (1947)'

Sobre mim


Quando o cenário que vemos está turvo.

 Faz isso, toma um chá, uma bebida forte, um café,qualquer coisa e espera passar. Sempre passa. Não tome decisões nesse momento, só fique em paz com você mesmo. Esqueça de quem é a culpa ou qual é a razão, esqueça pois é desperdiçar energia. Só espere! O nevoeiro em sua visão, ou será na sua alma? Vai se dissipar e o cenário vai ficar limpo e claro mais uma vez e aí será o momento de levantar e seguir na direção que você achar melhor.

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?


Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está? 
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar. 
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução. 
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha. 
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. 
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'